ESG e ESGT: Como a Sustentabilidade está Moldando o Futuro dos Negócios e Investimentos no Mundo
A sigla ESG se refere a fatores ambientais, sociais e de governança corporativa que afetam o desempenho financeiro e a reputação das empresas. O ESGT, por sua vez, acrescenta o componente tecnológico, refletindo a importância da inovação e da digitalização na criação de valor sustentável. As tendências ESG e ESGT estão cada vez mais presentes no mercado financeiro e na sociedade como um todo, impulsionadas por regulamentações, demanda de investidores e preocupações com a sustentabilidade.
De acordo com a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a adoção de práticas ESG é uma tendência global. No Brasil, o número de empresas com políticas de sustentabilidade cresceu de 27% em 2016 para 62% em 2021. A B3, a bolsa de valores brasileira, tem incentivado a adesão às práticas ESG por meio da criação de índices como o ISE (Índice de Sustentabilidade Empresarial), que reúne empresas com boas práticas em ESG.
A Bloomberg destaca que a pandemia de COVID-19 acelerou a adoção de práticas ESG, com investidores e empresas percebendo a importância de lidar com riscos ambientais, sociais e de governança. Em 2020, os fundos de investimento ESG nos EUA registraram entradas de US$ 51,1 bilhões, um recorde histórico. Na Europa, os fundos ESG captaram € 233,3 bilhões em 2020, também um recorde. A consultoria JP Morgan previa que o mercado de títulos verdes, que financiam projetos sustentáveis, pode chegar a US$ 1 trilhão em 2021.
Transparência e mensuração
O Citi Bank destaca a importância da transparência e da mensuração para a efetividade das práticas ESG. A empresa ressalta que a falta de padrões e métricas consistentes dificulta a avaliação do desempenho em ESG e a comparação entre empresas. Para superar esse desafio, a União Europeia criou a Taxonomia de Finanças Sustentáveis, que estabelece critérios para identificar atividades econômicas sustentáveis.
No Brasil, o Comitê de Pronunciamentos Contábeis, entidade responsável pela elaboração e divulgação de normas contábeis no país que visa promover a harmonização e a convergência das práticas contábeis brasileiras aos padrões internacionais, possui o CPC 49 — Contabilidade para os Contratos de Concessão, que trata da mensuração de ativos intangíveis com características de serviços públicos, incluindo aspectos relacionados a sustentabilidade e meio ambiente.
O objetivo do CPC 49 é estabelecer critérios para o reconhecimento, mensuração e evidenciação de ativos intangíveis gerados em decorrência de contratos de concessão. Ele estabelece critérios específicos para a mensuração de ativos intangíveis relacionados a contratos de concessão, que podem incluir aspectos de sustentabilidade e meio ambiente, sendo importante para empresas que atuam em setores que têm impactos ambientais e sociais significativos.
A SEC, órgão regulador do mercado de capitais dos EUA, tem se mostrado cada vez mais atenta às práticas ESG. Em março de 2021, a agência criou um grupo de trabalho para avaliar as práticas de divulgação de informações sobre ESG pelas empresas listadas em bolsa. O objetivo é identificar possíveis lacunas na divulgação de informações e incentivar a transparência.
Em 2020, a Nasdaq lançou sua iniciativa ESG Blueprint, um conjunto de diretrizes para ajudar as empresas listadas a aprimorar sua divulgação de informações ESG e aumentar a transparência em seus negócios. No ano seguinte a empresa anunciou planos para exigir que todas as companhias listadas em suas bolsas cumpram requisitos mínimos de diversidade de gênero e de inclusão em seus conselhos de administração, a partir de 2023.
A relevância e os impactos do avanço do ESG
A BlackRock, uma das maiores gestoras de investimentos do mundo, destaca que a integração de práticas ESG pode gerar valor para os acionistas no longo prazo. A empresa afirma que empresas com boas práticas em ESG têm menor probabilidade de sofrer sanções, multas e processos legais, o que reduz riscos e custos. Além disso, a reputação de uma empresa pode ser afetada positivamente pela adoção de práticas ESG, aumentando a confiança dos clientes e dos investidores.
Ainda, segundo a ONU, o mundo precisa investir cerca de US$ 2,4 trilhões por ano até 2030 em áreas como energia renovável, transporte limpo, agricultura sustentável e tecnologias de eficiência energética para alcançar as metas do Acordo de Paris e limitar o aquecimento global a 1,5 °C acima dos níveis pré-industriais. Esses investimentos são essenciais para alcançar um futuro mais sustentável e as empresas que estão liderando essa mudança serão valorizadas pelos investidores.
A Economatica, empresa especializada em análise de ações, divulgou um estudo que aponta que as empresas brasileiras que integram o ISE da B3 tiveram um desempenho superior ao Ibovespa, principal índice da bolsa brasileira, entre 2014 e 2020, com o ISE atingindo uma valorização acumulada de 202,5%, enquanto o Ibovespa valorizava 124,3%. Isso sugere que as empresas com boas práticas em ESG podem ser mais resilientes e apresentar melhores resultados financeiros no longo prazo.
Da perspectiva da análise
A análise ESG é uma abordagem que avalia as empresas com base em critérios ambientais, sociais e de governança, além de fatores relacionados à tecnologia. A consultoria MSCI ESG Research divulgou um relatório que mostra que, em média, as empresas que têm pontuações mais altas em ESG superaram as empresas com pontuações mais baixas em termos de retorno sobre o patrimônio líquido, crescimento de receita e lucros, além de terem um menor risco de insolvência.
Em relação à análise de ações, a análise ESG pode ser usada como um fator para avaliar o desempenho futuro das empresas. Por exemplo, a plataforma de análise de investimentos da Morningstar inclui uma pontuação ESG em suas avaliações de empresas. Essa pontuação pode ser usada pelos investidores para identificar empresas que são líderes em práticas sustentáveis e avaliar seu desempenho futuro.
Algumas perspectivas importantes das Big Four quanto a agenda em termos de valor
A KPMG publicou um relatório intitulado “The Pulse of Fintech”, que mostra que os investimentos em empresas de fintech com foco em ESG cresceram de US$ 1,9 bilhão em 2016 para US$ 30,8 bilhões em 2020. Isso representa um aumento de mais de 1.500% em apenas quatro anos.
A PwC divulgou um estudo chamado “ESG Investing: From Niche to Mainstream”, que mostra que mais de 70% dos investidores institucionais estão aumentando suas alocações em investimentos ESG. Além disso, 80% dos investidores acreditam que as empresas que não adotarem práticas ESG correm o risco de perder valor.
A Deloitte publicou um relatório intitulado “Investing for a Sustainable Future”, que mostra que os investimentos em fundos ESG aumentaram 42% em 2020, atingindo US$ 152 bilhões. O relatório também destaca que o número de empresas que relatam informações ESG aumentou de 3.500 em 2011 para mais de 10.000 em 2020.
A Ernst & Young publicou um relatório chamado “The Future of ESG in M&A”, que mostra que a análise ESG é cada vez mais importante nas negociações de M&A (fusões e aquisições), com mais de 80% dos líderes de negócios acreditando que a avaliação ESG será obrigatória em todas as transações de M&A nos próximos anos.
A Deloitte, a KPMG, a Ernst Young e a PwC estão entre algumas das maiores empresas que oferecem serviços de consultoria em ESG e ajudam outras empresas a implementar práticas sustentáveis.
Grandes empresas também estão de olho
A IBM publicou um artigo em seu blog corporativo que destaca como a tecnologia pode ser usada para apoiar a transição para uma economia mais sustentável. A empresa afirma que a inteligência artificial, a Internet das Coisas e a computação em nuvem podem ser usadas para otimizar processos e reduzir o consumo de energia.
Já a Alphabet, empresa-mãe do Google, havia anunciado que planejava usar apenas energia renovável em suas operações até 2030. A empresa já alcançou essa meta, usando 100% de energia renovável em suas operações, incluindo data centers e escritórios.
Em 2020, o HSBC se comprometeu a financiar e investir US$ 1 trilhão em projetos de baixo carbono até 2030 como parte de seu compromisso com a sustentabilidade. O banco também estabeleceu uma meta de ser neutro em carbono em suas operações e cadeia de suprimentos até 2050. Já em 2021, o HSBC anunciou que estava deixando de financiar usinas de carvão em todo o mundo, em linha com seu compromisso de apoiar a transição para uma economia de baixo carbono.
No Brasil, a Itaúsa, holding que controla o Itaú Unibanco, anunciou em 2020 que está comprometida em atingir a neutralidade de carbono até 2050. A empresa está investindo em tecnologias limpas e projetos de energia renovável para atingir esse objetivo.
Capturando ESG no Brasil: O Índice S&P/B3 Brasil ESG
A S&P DJI e a B3 se uniram para lançar o Índice S&P/B3 Brasil ESG, um benchmark ESG amplamente representativo do mercado de valores brasileiro com um perfil ESG melhorado, enquanto oferece características de risco/retorno similares às do seu benchmark, o S&P Brazil BMI. O índice utiliza uma abordagem de pontuação ESG para determinar a representação das empresas no índice, incentivando as empresas com pontuações mais baixas a melhorar seus programas, práticas e políticas para aumentar suas pontuações e possivelmente seu peso no índice. O objetivo do índice é atender à crescente demanda por soluções ESG na região e capturar uma imagem mais completa do investimento ESG no Brasil.
A indústria se moldando
O setor de semicondutores é um exemplo de como o ESG pode afetar as empresas, pois a fabricação de chips requer grandes quantidades de água e energia, além de gerar poluição, tornando-se um fator de risco financeiro, afetando a produção e os preços dos chips, principalmente em função de sua grande demanda. Ainda, segundo o HSBC, as empresas do setor estão cada vez mais focadas em ESGT, com um aumento de 54% na adoção dessas práticas entre 2018 e 2020.
Assim, empresas líderes, como a IBM e a Alphabet (Google), estão investindo em tecnologias sustentáveis para ajudar a reduzir o impacto ambiental de suas operações. No Brasil, empresas como Monteiro Aranha, Itaúsa e o BTG Pactual estão implementando práticas ESG e investindo em energia renovável. Enquanto empresas como a Ambipar, por sua vez, especializam-se em gestão ambiental e oferecem soluções sustentáveis para seus clientes.
Gigantes da economia também se atentam ao ESG/ESGT
O FMI publicou um relatório em outubro de 2020 intitulado “O Papel das Políticas Fiscais em Apoiar a Transição para a Sustentabilidade”. O relatório destaca que as políticas fiscais podem desempenhar um papel importante na promoção da sustentabilidade ambiental e na redução das emissões de carbono. O relatório também destaca a importância de investir em infraestrutura verde e incentivar a inovação ecológica.
Por aqui, o Banco Central do Brasil (BC) lançou em 2020 uma consulta pública sobre o tema de ESG e o papel dos bancos na promoção de práticas sustentáveis. O objetivo é criar um conjunto de diretrizes para as instituições financeiras em relação a questões ambientais, sociais e de governança, assunto em que o Banco do Brasil (BB) já vem se destacando há alguns anos.
O BC lançou em 2020 uma pesquisa sobre a percepção de risco climático entre as instituições financeiras do país. A pesquisa mostra que 88% dos bancos brasileiros consideram o risco climático em sua gestão de riscos e 53% têm políticas ESG estabelecidas.
Já o Banco Mundial (BM) publicou um relatório intitulado “Perspectivas Econômicas Globais” em janeiro de 2021, que destaca a importância da sustentabilidade ambiental para a recuperação econômica global pós-pandemia. O relatório também destaca a necessidade de investir em infraestrutura verde e em energias renováveis. No ano anterior a instituição publicou um relatório intitulado “Oportunidades de Negócios Sustentáveis em Mercados Emergentes”, que destaca as oportunidades de investimento em práticas sustentáveis em países em desenvolvimento, destacando uma crescente demanda por soluções sustentáveis e que empresas que adotarem práticas ESG terão uma vantagem competitiva.
O BM também trabalhou com incentivos, lançando em 2020 um programa de empréstimo verde de US$ 2,2 bilhões para apoiar projetos de energia renovável em países em desenvolvimento, visando ajudar a reduzir a dependência de combustíveis fósseis e promover a transição para uma economia mais sustentável.
O Federal Reserve (Fed), dos Estados Unidos, anunciou em 2021 que estava criando um Comitê de Supervisão de Estabilidade Climática para avaliar os riscos climáticos para o sistema financeiro dos EUA e as implicações para a estabilidade financeira. O Fed também se juntou ao Network for Greening the Financial System, um grupo de bancos centrais e supervisores financeiros que trabalham juntos para desenvolver práticas sustentáveis no setor financeiro.
Vale lembrar, ainda, que as agências de rating, como a Moody’s e a S&P Global Ratings, já estão incluindo fatores ESG em suas análises de crédito e avaliações de risco.
Como as empresas podem deixar de ver o ESG/ESGT como risco e/ou custo e passar a ver como oportunidade de negócio?
A implementação de políticas e práticas sustentáveis pode trazer uma série de benefícios, como aumento da eficiência energética, redução de custos operacionais, melhoria da reputação da marca, maior atração de talentos e investidores, entre outros. Para deixar de ver tais práticas como um custo ou risco, as empresas precisam entender que a sustentabilidade pode gerar valor para os negócios, e não apenas custos adicionais.
É importante que a gestão da empresa tenha uma visão de longo prazo e considere os impactos sociais e ambientais em suas decisões, além de buscar formas de agregar valor à empresa por meio dessas práticas.
Algumas resoluções que podem ajudar as empresas a adotarem práticas ESG/ESGT são as Normas ISO 26000 e a Agenda 2030 da ONU. A ISO 26000 fornece orientações sobre a responsabilidade social das organizações, enquanto a Agenda 2030 estabelece objetivos globais de desenvolvimento sustentável (ODS) e incentiva a adoção de práticas sustentáveis por empresas e governos. Esses Objetivos de Desenvolvimento Sustentável são uma importante referência para as práticas ESG e ESGT, pois buscam promover a sustentabilidade global, com metas como a redução da pobreza, fome zero, energia limpa e acesso à água potável.
Uma nova pesquisa da PwC descobriu que certas questões ambientais, sociais e de governança estão agora entre as cinco principais preocupações dos investidores, com 49% citando governança corporativa eficaz e 44% citando a necessidade de reduzir as emissões de gases de efeito estufa.
Ainda assim, a CNBC relatou que há uma “reação contra ESG” dentro das empresas, com executivos questionando “o valor das métricas ESG” e expressando preocupações com a super-regulação. A parte DEI (diversidade, equidade e inclusão) do ESG também tem enfrentado reações.
Conforme explicado por dois professores no Harvard Business Review, o investimento em ESG “não resolverá os urgentes desafios ambientais e sociais de nossa geração”.
O chefe do Pacto Global da ONU, que criou o termo ESG em 2005, escreveu recentemente na Fortune que “os críticos têm um ponto”. E de fato, o surgimento do ESG não está criando os movimentos necessários em direção a metas-chave, como combate às “mudanças climáticas descontroladas” e às “desigualdades sociais e econômicas crescentes”, mas “o raciocínio central por trás da interconexão do ESG permanece válido” e está tendo sucesso em medidas-chave, conforme dito por Sanda Ojiambo, secretária-geral adjunta, diretora executiva e CEO do Pacto Global da ONU.
O Conselho ESG da ALLY Energy reuniu recentemente uma equipe de especialistas para obter suas opiniões. Para a maioria das pessoas, a agenda veio para ficar e é uma parte sensata e importante dos negócios.
Stephanie Weiler, que supervisiona ESG para Alvarez & Marsal, disse em um evento que os funcionários de hoje querem trabalhar para empresas com políticas ESG fortes, reforçando a importância da agenda na atração de talentos. Muitos valorizam “propósito corporativo em vez de salário” e querem saber que estão contribuindo positivamente não apenas para sua empresa, mas também para “metas sociais mais amplas”.
Publicação Original: https://www.linkedin.com/pulse/esg-e-esgt-como-sustentabilidade-est%C3%A1-moldando-o-dos-marlon/